Vamos comer fora

Entre memórias de São Paulo, da França e de Londres, o colunista indica lugares para uma refeição em incríveis mercados de rua


Quando eu nasci, meus avós italianos Lucia e Gherardo Santorsa viviam na Rua Djalma Dutra, uma travessa da famosa Rua São Caetano, a rua das noivas, na região central de São Paulo. Os nonnos tinham uma leiteria, onde aprendi a gostar de coalhada, que vinham em garrafinhas de vidro, rosquinhas de leite São Luiz, que vinham em latas, e Guaraná Antarctica, que vinha às dúzias em caixas de papelão.

Em frente à leiteria dos meus avós, existiam os Laticínios Tania, onde comi minhas primeiras lascas de queijo provolone. Naquela época, minha nonna Lucia, que cozinhava espetacularmente, preparava para toda a família fartos almoços de domingo, com entradas, aves, peixes, carnes, massas e sobremesas. Fazia alcachofras recheadas, berinjelas com muçarela e tomate, peixes na brasa, ossobuco, risotos, frangos, perus, linguine all’amatriciana, espaguete alla carbonara, bolos de coco e de fubá, brigadeiro e sorvetes.  

Lucia comprava seus ingredientes no Mercado Municipal de São Paulo, bastante próximo da sua leiteria, e eu ia às compras com ela.

Foi quando me apaixonei pelo Mercadão e, por consequência, pelo seu histórico sanduíche de mortadela. Aquele fabuloso aprendizado no Mercadão me encaminhou para outras maravilhas da gastronomia popular, como os pastéis de feira, também uma tradição de São Paulo. Já adulto, me transformei em frequentador de mercados e feiras em diferentes lugares do mundo. Durante um tempo, quando tive uma filial da W/Brasil na Espanha, a W/Espanha, virei fã e frequentador do Mercado de La Boquería, em Barcelona. Adorava provar o presunto Pata Negra de diferentes barracas.

Sou, há vários anos, habituê da feirinha da praça do Vieil Antibes, no sul da França, que, na sua entradinha, vende uma deliciosa Socca, espécie de crepe feito com farinha de grão-de-bico, e fica pertinho da minha sorveteria preferida na Europa, a Gelateria Del Porto. Conheço de cabeça pra baixo a Rue de Meynadier, em Cannes, que é uma pequena mistura de mercado e feira livre, onde se encontra a Cenerie, na minha opinião a melhor fromagerie do mundo.

Enfim, como expert no assunto, garanto e afirmo que em 2017, com 1003 anos de atraso, conheci um lugar ainda melhor do que todos esses: o Borought Market de Londres (foto). Localizado na margem sul do Rio Tâmisa, o Borought Market tem mais de 100 barracas de alimentos da melhor qualidade, que vendem legumes, frutas, carnes, aves e muitas outras coisas que você nunca viu antes. Existem também à venda os produtos gourmets de todo o planeta, como azeitonas, azeites, patês, linguiças, presuntos, pães e queijos. E, para comer lá mesmo, um dos grandes hits do Borought Market é o espanhol Brindisa, que faz uma paella perfeita e um espetacular sanduíche de chorizo.

Mas existem outros lugares sensacionais para comer sem sair do mercado, como a barraca Kappacasein, que faz uma raclette com queijo derretido sobre batatas e cebolas melhor que as de Courchevel e um sanduíche de queijo quente que compete pau-a-pau com o mistinho do Harry’s Bar de Veneza. O único defeito de comer no próprio Borought, ao invés de levar as coisas pra casa, é que a maioria das barracas com comidas deliciosas não têm mesas nem cadeiras para o freguês se sentar e comer confortavelmente.

Esse problema eu já resolvi. Fiz um trato com o gerente do The Market Porter, o pub em frente ao mercado, que é simples e objetivo:  eu compro uma garrafa de vinho e ele me empresta uma mesa pra saborear com minha mulher as deliciosas raclettes da Kappacasein.

Trato mais saboroso, impossível.

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