Esta mansão do século XVIII testemunhou muitos casos históricos ou anedóticos, histórias mais ou menos secretas e discussões literárias ou frívolas. Restaurado em 2018, dez salas e um grande salão estão disponíveis no coração do 6º arrondissement.
Tudo começou em 1766, quando um certo Monsieur Lefèvre, taverneiro do rei Luís XV, comprou uma estalagem às margens do rio Sena, entre a Place Saint-Michel e a Pont Neuf.
Localizado em frente ao mercado Vallée, especializado em aves e caça, o estabelecimento se transforma numa loja de vinhos que servia também refeições. A novidade agradou os parisienses. Pouco depois, Lefèvre decide abrir os quartos de empregada no primeiro andar para transformá-los em cômodos para pernoite. Como a violência era grande, os quartinhos foram transformados em pequenos salões onde homens de negócio acertavam as contas durante as refeições. Assim nasceram os célebres salões do Lapérouse que trariam tanta procura e fama ao estabelecimento.
Em torno de 1850, o grande chef francês Escoffier passou a dirigir o restaurante que se tornou o centro gastronômico da época. Nesta altura os quartinhos já tinham se tornado em pequenos salões de luxo onde senhores recebiam “amigas”. Alguns deles eram ligados ao Senado por galerias subterrâneas, verdadeiras passagens secretas usadas pelos políticos da época. Até hoje, certos vidros das janelas dessas alcovas possuem as marcas riscadas com os anéis que as "belles" ganhavam dos amantes. Dizem que assim elas testavam as joias para saberem se os seus serviços eram pagos com vidro ou diamante.
Em 1933, o restaurante foi o primeiro a conquistar a terceira estrela do célebre guia Michelin. O Lapérouse foi e é ainda ponto de encontro dos grandes deste mundo: Zola, Victor Hugo, duque de Windsor, princesa Margaret, Aga Khan, entre outros.
A partir de 1969 e com a perda da terceira estrela, o Lapérouse passou por anos difíceis a tal ponto de se tornar meramente uma "armadilha turística”, que vivia das glórias do passado.
Em 2018 com a chegada do chef Jean-Pierre Vigato o estabelecimento recuperou o antigo esplendor.
Mas Lapérouse hoje não é apenas referência gastronômica mas também um lugar mítico da Belle Époque onde George Sand, Émile Zola, Baudelaire, Guy de Maupassant, Alfred de Musset, Flaubert e Victor Hugo em algum momento de suas vidas fixaram residência em Lapérouse.
Entre o final do século XIX e a Primeira Guerra mundial, o restaurante tornou-se praticamente um salão literário e político, recebendo altas personalidades da sociedade, das artes e da política.
As pequenas salas se tornam ninhos de amor clandestinos onde senadores encontram secretamente atrizes como Caroline Otero ou Liane de Pougy. Ali eram trocados carinhos e presentes caríssimos. Conta-se ainda que os senadores chegavam às alcovas através um pequeno túnel que ligava o restaurante ao Senado.
Durante a Segunda Guerra mundial, a adega, salva da enchente de 1910, serviu de abrigo para proteção contra as bombas alemãs. Hoje, nada menos que 7.000 garrafas de vinho da Borgonha compõem a adega do restaurante.
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