Se e quando pensamos em sistemas, a primeira imagem que nos ocorre é a de um todo organizado, constituído por elementos interdependentes que estabelecem entre si fluxos e comunicação. Gosto de pensar no vinho como um sistema, um sistema aberto e sinérgico que, habilmente, combina passado e presente e cria futuro. Um sistema capaz de explorar os seus sonhos e as suas aspirações e de os criar em terceiros. Se pararmos de ler este editorial e olharmos para a capa da revista, temos a metáfora perfeita. Espumante. De repente, o nosso cérebro é assaltado pela imagem de um copo vivo, dourado, cheio de vida, borbulhante. E com esta imagem chegam as memórias de momentos felizes ou simplesmente a vontade de o beber; aquela imagem e o que a ela associamos ativa a parte mais sensorial do nosso cérebro. Há dois ou três produtos, para além do vinho, capazes de o fazerem. Diria que a gastronomia, a moda e a arte, ou seja todos eles produtos resultantes de processos criativos e da paixão do homem.
Voltemos ao vinho. Nunca o vinho teve um ambiente externo tão favorável ao seu desenvolvimento e à sua evolução. As estatísticas dizem que se bebe menos mas melhor. Logo, estamos no bom caminho. E, neste ponto, foco a nossa atenção no consumidor. Esse grupo que, sem qualquer organização sistémica, transformou o mundo e criou um novo contexto e alterou o seu papel. O consumidor dos dias de hoje é soberano, ou seja, o influencer, impondo ritmos acelerados, exigindo adaptação e novos produtos, querendo identidade e genuinidade. Ninguém quer réplicas. E neste ponto, o vinho tem capacidade de resposta pois representa, como poucos produtos, o seu território, a sua cultura e a técnica e paixão de quem o produz.
Falar em consumidores é falar em promoção, divulgação, mas também em educação. É falar em posicionamento, imagem, perceção, mas também em informação. O consumidor de hoje é diferente do de outrora e, se há umas décadas, as vendas assentavam no produto e na publicitação das suas características, hoje assentam e partem do consumidor. Hoje já não se trata de vender o produto mas a experiência e a emoção, já não se trata de publicitar, mas também de informar e educar. E, conquistado o consumidor, poderá estar ganho o mercado, pois se mobilizado, ele próprio passa a ser promotor do próprio produto, estando hoje o seu poder de comunicação ampliado pela cobertura das redes sociais. O passa-palavra de hoje é global.
Esta preponderância do poder do consumidor, sobretudo quando ele é mais informado e mais conhecedor, é benéfica para o vinho. E com um contexto externo como este, as palavras de ordem no sistema do vinho serão trabalhar e educar. Quanto mais conhecedores forem os consumidores, mais audaz terá de ser o sistema, mais identidade e caráter terá de ter o vinho. Mais forte terá de ser a experiência. Mais necessária a educação e a informação. É nesta resposta e na capacidade de a dar que reside uma boa parte da capacidade de criação de valor e de afirmação num sistema fortemente competitivo.
Nunca o consumidor e o vinho viveram tempos tão interessantes como o dos dias de hoje.