I love NY. Mas sem exageros

Washington Olivetto relembra lugares que marcaram sua recente temporada na Big Apple


Já faz um tempo que deixei de ser novidadeiro. Antigamente, quando viajava para uma cidade como Nova York, fazia questão de experimentar os novos restaurantes que tinham acabado de ser inaugurados. Mais recentemente, resolvi usar meus amigos como cobaias pra essa tarefa. Deixo que eles experimentem antes e me contem se vale ou não vale à pena fazer uma visita.  

Saio no lucro porque a maioria das centenas de novidades que surgem todos os anos numa cidade como Nova York são, na verdade, bobagens. Surgem e desaparecem rapidamente. Apenas os muito especiais sobrevivem e esses são bastante raros.

Agora mesmo estive por alguns dias na cidade e resolvi visitar vários lugares conhecidos e arriscar uma única novidade. Fui comer meu velho e bom Bacon Cheeseburguer do Broome Street Bar, no Soho, que conheço desde 1972. O Broome Street Bar continua o mesmo, com uma frequência que mistura as jovens e magérrimas modelinhos de Downtown, com os eletricistas e encanadores da região. O cheeseburguer preparado no carvão com queijo cheddar, bacon e pão árabe permanece impecável. E as duas taças de vinho que tomei, um Côtes do Rhône tradicional, combinaram perfeitamente com o búrguer, sem nenhum sinal de esnobismo ou ostentação.

Contrastando com o popular Broome Street Bar fui, no dia seguinte, jantar no Le Bernardin – para muitos, o melhor restaurante de Nova York. Concordo e garanto que o Bernardin continua impecável. Fora o fato de que você não precisa ser o Boni, certamente o melhor e mais tradicional freguês daquele lugar, para ser tratado como um rei pelo Éric Ripert e sua equipe. No tradicional espaço da rua 51 West entre a 6ª e a 7ª Avenidas, que já foi o reino da Warner Music e da Sony Music, o serviço é sempre um hit.

Almocei também no Carbone, que, já faz algum tempo, é o mais badalado restaurante italiano da cidade. Prefiro ir até lá na hora do almoço, porque no jantar o índice de Leonardos di Caprio per capita daquele restaurante é muito alto e, às vezes, o tititi fica mais importante do que a comida. Humano que isso aconteça e por isso mesmo é mais esperto desfrutar o Carbone da uma e meia da tarde.

Obviamente, estive também no Peter Luger, que continua o mesmo dos últimos 135 anos, e não é apenas a melhor steakhouse do mundo: é também o melhor Peter Luger do mundo, o que o transforma em absolutamente imbatível.  

Além de visitar esses velhos conhecidos, fui, por sugestão de uma amiga da minha filha, Antônia, experimentar o novo japonês da moda. Um lugar chamado Ushiwakamaru, na rua 23, em Chelsea, que decididamente não vem ao caso. Lugarzinho pretensioso, caro e sem charme algum. Fiquei arrependido de não ter ido ao Sushi Yasuda, meu japa favorito em Midtown, ou até mesmo ao Blue Ribbon, da Sullivan Street, que não é brilhante na comida mas, pelo menos, é divertido no ambiente e na frequência.

Fora esses restaurantes, na minha curta estada novaiorquina ouvi um pouco de jazz nos eternos Village Vanguard e Smalls e desfrutei de algumas exposições. Entre elas, a que mais me chamou atenção foi a que estava instalada num prédio na região do Hudson Yards, pertinho da filial Downtown do historicamente excelente Estiatorio Milos.

Promovida pela família de Jean-Michel Basquiat, dedicada à obra e ao estilo de vida daquele grande artista, trazia logo na entrada um comentário que me chamou a atenção, a respeito do restaurante preferido de Basquiat, porque foi também um dos meus prediletos, nos anos 1980 e 1990: o Odeon, de Tribeca. Misturando comida correta com astral esplêndido, o Odeon foi o precursor de lugares como o Café Luxembourg, o Balthazar, o Pastis e indiretamente também responsável pelo ressurgimento do Minetta Tavern. Depois de mais de 40 anos do seu primeiro auge, continua uma unanimidade. Fiquei com saudade. Volto lá na minha próxima ida a Nova York com a certeza de que vou gostar.

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