Polícia indicia onze no caso Backer

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Redação

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A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu a investigação sobre as responsabilidades pelas intoxicações provocadas em pelo menos 29 vítimas que consumiram produtos da cervejaria Backer. Onze funcionários da empresa foram indiciados por crimes como lesão corporal, contaminação de produto alimentício e homicídio.

 

As diligências começaram no dia 8 de janeiro, com a abertura do inquérito, finalmente concluído nesta semana. Sete pessoas morreram por causa da contaminação por dietilenoglicol. Outras 22 foram contaminadas.

 

Flávio Grossi, o delegado responsável pela investigação, garantiu que a Polícia conseguiu comprovar física e quimicamente, a existência de um vazamento no tanque de cerveja. O problema teria começado em setembro do ano passado, quando a empresa comprou o tanque JB10. Já o Ministério da Agricultura apontou que a contaminação teria começado ainda antes, em janeiro de 2019.

 

 

"Encontramos o vazamento dentro do tanque. O líquido ia para dentro da cerveja. Achamos a comprovação física e visual da existência desse vazamento, mas, para nossa equipe, queríamos mais. Demonstramos quimicamente uma similaridade entre o produto retirado no tanque e lá dentro do produto. Tinha a mesma composição. Comprovamos de forma química a existência desse vazamento", disse Grossi.

 

O delegado destacou que havia outros pontos de vazamento nas instalações da cervejaria. "A bomba do chiller vazando, o líquido se espalhava pela fábrica", explicou Grossi.

 

Durante a investigação, o inquérito descartou, por diferentes motivos, treze possíveis vítimas. No entanto, outras 30 ainda estão em investigação.

 

O delegado descartou qualquer tipo de intenção em cometer o crime. Mas destacou que a soma de negligência e imperícia provocaram a tragédia. "Foi um fato acidental, sem sombra de dúvida, mas passível de punição", afirmou. “Dois procedimentos levaram às intoxicações e mortes: o uso incorreto do equipamento, com substância tóxica, e o vazamento dessa substância. Se tivessem interrompido qualquer uma dessas duas condutas, nada disso aconteceria", completou Grossi.

Foram indiciados pelo crime:

 

A testemunha que mentiu em seu depoimento (responderá por falso testemunho e obstrução)

 

O chefe da manutenção (responderá por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício culposa)

 

Seis pessoas do grupo gestor e responsáveis técnicos (responderão por homicídio culposo, lesão corporal culposa e contaminação de produto alimentício dolosa)

 

Três pessoas do grupo societário (responderão de forma dolosa por não dar publicidade a produto que causa risco e por manter em depósito e colocar à venda esse produto).

 

Em nota, a cervejaria Backer garantiu que “irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores. Sobre o inquérito policial, tão logo os advogados analisarem o relatório, a empresa se posicionará publicamente".

 

 

Já a associação das vítimas do caso Backer divulgou nota após a apresentação da Polícia Civil contestando a posição da cervejaria.

 

 

Confira a nota na íntegra:

 

"Antes de tudo, é preciso informar que a responsabilidade civil da Backer diante das vítimas é objetiva, não sendo necessário comprovar a culpa pelo ocorrido. A conclusão do inquérito além de reforçar a responsabilidade da cervejaria, demonstra de maneira inequívoca a culpa e o dolo dos gestores da cervejaria Backer pela tragédia que envenenou pelo menos 30 (trinta) pessoas. São mais de 30 (trinta) famílias severamente atingidas: ver seus queridos internados em CTI, com perda de movimentos e visão, dificuldade de fala, comprometimento dos rins, com sequelas que jamais serão reparadas. Além disso, diante das pelo menos 7 (sete) mortes, outras famílias jamais poderão conviver novamente com seus amados, MORTOS PELO SIMPLES CONSUMO DE CERVEJA BACKER.

 

Enquanto isso, as mais de 30 (trinta) famílias continuam desamparadas, sem qualquer auxílio ou apoio da cervejaria Backer, que de maneira reiterada não cumpre com as determinações judiciais, encontrando os mais variados tipos de desculpas para se omitir de suas responsabilidades. As evidências de desvio patrimonial e alteração de sócios em empresas do grupo comprovam o intuito de fraudar e se esconder das indenizações devidas às vítimas. Além dos danos às pessoas, as famílias estão arcando com os tratamentos caros, perderam renda e estão completamente desamparadas, sem qualquer auxílio frente a tantas dificuldades. TUDO ISSO, POR CONTA DA BACKER.

 

A conclusão do inquérito demonstra o completo descontrole da Backer diante dos produtos oferecidos à população, manchando a imagem de Minas Gerais e principalmente do setor cervejeiro-artesenal. O que se espera é justiça para as vítimas, suas famílias e toda a sociedade mineira. Não existem mais desculpas para que a Backer deixe de prestar auxílio aos envenenados!"