Até 70% das regiões produtoras de vinho do mundo podem se tornar inadequadas para o cultivo de uvas se o aquecimento global exceder 2°C, de acordo com um novo estudo, publicado na revista Nature Reviews Earth & Environment na última terça-feira.
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão depois de analisar mais de 200 estudos sobre os impactos da mudança climática na produção de uvas. Entre as regiões vinícolas ameaçadas estão Califórnia, Barossa, Stellenbosch, Mendoza, sul da Itália, boa parte de França, Espanha e Portugal, além de muitas outras regiões.
“Especificamente, 29% podem enfrentar condições climáticas extremas demais, impedindo a produção de vinhos premium, enquanto o futuro dos 41% restantes dependerá da viabilidade de medidas de adaptação eficazes”, aponta o estudo. “Para aumentos de temperatura superiores a 2°C, 70% das regiões vinícolas existentes podem enfrentar riscos substanciais de perda de adequação”, garantem os pesquisadores.
As temperaturas médias globais ficaram 1,52°C acima da era pré-Revolução Industrial nos 12 meses até janeiro de 2024, de acordo com dados da UE.
Isso levou a ondas de calor escaldantes, secas extraordinárias e tempestades mortais. Também causou um grande impacto na produção de vinho, pois os rendimentos caíram para o nível mais baixo desde 1961. A Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) atribuiu os baixos níveis de produção ao mau tempo, incluindo geadas, chuvas fortes e secas.
Em 2015, um total de 196 países assinou o Acordo de Paris, em uma tentativa de enfrentar os impactos negativos das mudanças climáticas. O objetivo comum é garantir que as temperaturas globais não aumentem mais de 2°C em relação aos níveis pré-industriais.
No entanto, as emissões globais de gases de efeito estufa aumentaram 1,1% ao ano em 2023, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Enquanto isso, um relatório de 2023 do programa ambiental da ONU constatou que o mundo está a caminho de atingir 2,9°C de aquecimento neste século se as políticas atuais forem mantidas.
Pesquisadores das Universidades de Bordeaux e da Borgonha analisaram os possíveis impactos do aumento das temperaturas. Eles segmentaram cada continente e suas áreas produtoras de vinho em macrorregiões definidas por condições climáticas específicas. Por fim, eles chegaram a conclusão de que há "um risco substancial de inadequação para algo em torno de 49% a 70% das regiões vinícolas existentes".
Os pesquisadores acrescentaram: "Cerca de 90% das regiões vinícolas tradicionais nas regiões costeiras e de planície da Espanha, Itália, Grécia e sul da Califórnia podem correr o risco de desaparecer até o final do século devido à seca excessiva e às ondas de calor mais frequentes com as mudanças climáticas".
A solução, caso o problema persista, talvez seja buscar outros caminhos. Os pesquisadores observaram que os produtores podem reagir cultivando diferentes variedades de uvas e fazendo experiências com novos porta-enxertos. No entanto, eles alertaram que essas adaptações podem não ser suficientes para manter a produção de vinho economicamente viável em determinadas áreas.
Por outro lado, o relatório afirma que o aquecimento das temperaturas pode facilitar o cultivo de uvas em regiões como o Reino Unido, o norte da França, o estado de Washington, o Oregon e a Tasmânia.
Em escala global, “aproximadamente 25% das regiões vinícolas atuais podem se beneficiar de um aumento de temperatura limitado a 2°C, e cerca de 26% provavelmente manterão sua adequação atual com práticas de gerenciamento adequadas", disseram os pesquisadores. “Isso implica que os níveis de aquecimento global abaixo de 2°C podem ser considerados um limite seguro para mais da metade dos vinhedos tradicionais”.
A se manter o atual cenário, pode ser que as futuras gerações tenham como referência de qualidade em vinhos um bom cabernet-sauvignon dinamarquês…