Mais uma vez os extremos climáticos devem afetar a produção de algumas das mais famosas regiões vitivinícolas europeias. No episódio mais recente, em meados de agosto, a região de Châteauneuf-du-Pape foi varrida por um tornado com ventos de até 200km/h. Um dos vinhedos mais nobres da região, La Crau, foi particularmente afetado. Além de Viex Télégraphe, principal vinícola a possuir vinhas neste lieu-dit, La Nerthe e Château de Nalys (Guigal) também utilizam uvas de La Crau para seus vinhos mais ambiciosos.
Em Vieux Télégraphe é certo que não haverá produção do Châteauneuf-du-Pape branco, e o tinto talvez consiga ser lançado, com quebra de produção que pode chegar a 90%.
No meio do verão europeu um grande incêndio próximo a Bordeaux consumiu quase 14.000 hectares de florestas. Apesar das queimadas estarem próximas à Sauternes e Barsac, as cinzas e fumaças foram em direção oposta a dos vinhedos, minimizando o risco de smoke taint (contaminação das uvas por partículas defumadas). Ainda assim a temperatura média acumulada no primeiro semestre deste ano está 2ºC acima da média histórica.
Na Espanha, os incêndios atacaram cerca de 75 mil hectares de terra, se aproximando dos vinhedos de Rioja e da Galícia, onde Valdeorras foi mais severamente afetada. Em Portugal o drama está nas altas temperaturas do verão. No Douro, alguns dias as temperaturas diurnas se aproximaram dos 50ºC e, mais grave para a viticultura, a temperatura noturna permanecia na faixa dos 35ºC. No Alentejo, David Baverstock, diretor de enologia da Monte da Ravasqueira, também mostrava preocupação com a sequência de dias com temperaturas acima dos 40ºC. Ainda que o ciclo das videiras esteja no início, portanto ainda sem comprometer a qualidade das uvas, o volume de produção deve ser reduzido devido ao estresse durante a floração e formação dos cachos.
A Itália vive o mesmo drama português, com calor e seca, observando uma antecipação entre 7 e 20 nos dias de início de colheita em comparação ao ano anterior. A Sicília foi uma das regiões que mais sofreram com incêndios e espera uma redução entre 5% e 10% no volume produzido de vinho em 2022.