Na soleira brasileira, a Campanha Gaúcha ganha espaço como um dos principais produtores de vinhos finos do País. Atualmente, a região já produz 31% dos vinhos finos elaborados no Brasil.
Ocupando quase toda a linha de fronteira com o Uruguai, a região tem como base o terroir, colhendo os benefícios de uma latitude privilegiada, entre os paralelos 29º e 31º sul, numa altitude que varia de 100 a 400 metros.
As vinícolas estão concentradas em sete municípios: Bagé, Candiota, Dom Pedrito, Itaqui, Livramento, Rosário do Sul e Uruguaiana. Entre as vinícolas, marcas conhecidas como Miolo, Salton, Almadén e Cooperativa Nova Aliança. No total, são 1.560 hectares de vinhedos com 36 variedades.
Uma das maiores conquistas da região foi a que a homologação da Indicação de Procedência da Campanha Gaúcha para Vinhos Finos e Espumantes. A Indicação é gerenciada diretamente pela Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha, entidade que reúne 17 associados e 18 marcas.
Para falar de como a região vem reagindo aos efeitos da pandemia, a GULA fez uma breve entrevista com o presidente da Associação, Valter José Potter – diretor-proprietário da Guatambu Estância do Vinho, de Dom Pedrito.
“Em maio, a Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha terá o lançamento oficial do seu Selo com a chegada dos primeiros rótulos ao mercado que ocorre neste primeiro semestre do ano”, anuncia Potter.
Um dos planos na Associação, assim que possível, é lançar oficialmente a Rota de Enoturismo com oito vinícolas participantes, sendo uma delas no Uruguai.
Leia o resumo da entrevista:
1. GULA: Como as vinícolas da Campanha Gaúcha vêm reagindo às circunstâncias da pandemia de covid-19? Houve um crescimento no e-commerce?
Valter Potter: Em canais tradicionais como restaurantes, as vendas foram muito impactadas com o fechamento de vários estabelecimentos. O enoturismo também foi afetado. Apesar de alguns ensaios para abertura, as vinícolas da região respeitaram as normativas sanitárias e acabaram por permanecer fechadas durante boa parte do período da pandemia.
Esses fatos não chegaram a impactar os números de faturamento das vinícolas no ano passado. Em 2020, fizemos um levantamento com os produtores. Das 18 vinícolas associadas, sete participaram da pesquisa -- portanto, as informações representam este recorte e não são números absolutos de toda a região.
De qualquer maneira, essas sete empresas têm portes diverso e representam diferentes cidades da Campanha Gaúcha, o que nos trouxe uma perspectiva ampla de como foi o cenário do vinho para a região. Todas as pesquisadas tiveram crescimento de no mínimo dois dígitos. Entre as vinícolas que participaram deste levantamento a média de crescimento em comparação com 2019 foi de 38%.
Com relação ao e-commerce, apesar do processo de digitalização das empresas de uma maneira geral, nem todas as vinícolas da região possuem essa ferramenta de vendas. Para muitas, é um canal relevante, que representa 24,6% das vendas em média das vinícolas pesquisadas. Observamos que quanto maior a presença digital da vinícola, melhor o desempenho no e-commerce. Em 2021, parte das vinícolas considera internalizar o e-commerce para potencializar e aumentar o volume de vendas.
2. GULA: De que modo as vinícolas criaram alternativas para superar esse momento?
VP: As alternativas criadas e identificadas para superar os desafios impostos pela pandemia foram diversas e mostraram-se efetivas. A adoção de interações online com clientes foi um dos caminhos utilizados, não apenas com a venda via e-commerce, mas com a participação em lives e reuniões à distância com compradores e consumidores. Interessante observar que, mesmo com o cenário da pandemia, algumas estratégias tradicionais, como a adoção de representantes de vendas regionais, também surtiram bons efeitos, especialmente para as vinícolas que buscaram a expansão para mercados que ainda não atuavam.
Além de novos pontos de vendas, temos observado a maior participação em clubes de compras e supermercados. É interessante destacar que a abertura dos free shops no lado brasileiro da fronteira também tiveram efeitos positivos para as vinícolas da região já que o nosso extenso território faz limites tanto com o Uruguai quanto com a Argentina. Novos rótulos e tipos de produtos também tiveram um papel importante neste cenário positivo que se desenhou para a região da Campanha Gaúcha. Tanto o portfólio regional quanto o das vinícolas é bastante diverso e complementar em muitas características, proporcionando ao consumidor centenas de possibilidades de vinhos, em todas as categorias de preço, entre as 18 empresas que fazem parte da Associação.
Observamos do ponto de vista regional que a homologação da Indicação de Procedência da Campanha Gaúcha para Vinhos Finos e Espumantes trouxe visibilidade para a região, seus produtos e suas vinícolas, o que impactou positivamente nas vendas. A Campanha Gaúcha foi a primeira IP de vinhos fora da tradicional região produtora brasileira, a Serra Gaúcha. O dólar alto, em conjunto com o contexto das pessoas passarem mais tempo em casa, também proporcionou que as pessoas explorassem mais as opções de rótulos de vinhos brasileiros além das já tradicionais regiões e produtores.
3. GULA: Como vem sendo o ano de 2021 diante da piora do quadro sanitário? Quais os planos? Um investimento maior no e-commerce é um deles?
VP: Apesar da piora do quadro sanitário, que afetou sobretudo os restaurantes e o enoturismo, as empresas têm planos para lançamento de novos produtos e embalagens -- como o engarrafamento de vinho em lata.
Uma das novidades planejadas, assim que for possível, é o lançamento do Selo da Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha. Outro plano, tão longo o turismo possa ser praticado de forma segura., é lançar a Rota de Enoturismo com dez vinícolas participantes, sendo uma delas no Uruguai. A iniciativa já nascerá como uma Rota Binacional de enoturismo. A rota está em fase final de estruturação com o trabalho das placas indicativas das vinícolas.
Para divulgar o destino, fizemos uma parceria com o Sebrae RS e preparamos um ebook com a rota completa de vinhos. A publicação tem dicas, informações, contatos e mapas do trajeto para ajudar os exploradores, e será lançada assim que a pandemia permitir. O e-book traz sugestões de passeios por belíssimas paisagens e de gastronomia. É uma região que, apesar de estar tão próxima dos gaúchos, ainda é muito desconhecida.