A tensão no sul do França entre os produtores de vinho só tem aumentado nos últimos tempos. Após atacarem um carregamento de vinhos espanhóis que estava entrando no país, os vitivinicultores marcaram, via redes sociais, um mega protesto em Narbonne, na área de Aude, em Languedoc-Roussillon, no próximo dia 25 de novembro. A razão para tanta raiva e angústia é a forte crise pela qual passa o setor.
Frédéric Rouanet, chefe do sindicato dos produtores de vinho de Aude, convocou no Facebook uma "greve geral nas vinhas" nesse dia. Os produtores reivindicam que o governo francês, comerciantes e supermercados nacionais, façam mais para ajudar vitivinicultores que estejam enfrentando dificuldades financeiras, em um cenário de custos mais altos.
No final de outubro, manifestantes bloquearam a estação de pedágio da rodovia Le Boulou, perto da fronteira com a Espanha, em outubro, e atacaram dois caminhões que transportavam vinho da Espanha para a França.
leia também: Concorrência Desleal?
A ministra francesa de assuntos rurais, Dominique Faure, criticou recentemente a violência em Le Boulou, dizendo à agência de notícias France Bleu que entendia a raiva dos produtores de vinho, mas não podia tolerar os métodos usados no protesto. A Confederação Espanhola de Transporte de Cargas (CETM) pediu às autoridades que façam mais para impedir os ataques a caminhões.
Rouanet disse que a crise de hoje é tão grave quanto as enfrentadas pelas gerações anteriores na região, que tem um longo histórico de protestos de vinicultores e onde os vinhedos continuam a ser a base da economia local.
Embora a região do Languedoc-Roussillon tenha assistido um crescimento de prestígio e valor médio nos últimos tempos, especialmente após a reestruturação significativa acordada com a União Europeia (UE) em 2008, vários fatores prejudicaram as finanças de muitos produtores na área nos últimos anos. Entre eles estão a Covid, uma difícil temporada de cultivo em 2021 e a inflação ligada à guerra na Ucrânia. Rouanet pediu que ministros de alto escalão visitassem a região para discutir a situação.
O Ministério da Agricultura da França já havia garantido que abriria um fundo de apoio emergencial de 20 milhões de euros para vinicultores de todo o país com problemas de fluxo de caixa. Faure reconheceu uma "situação climática e econômica excepcional" para o setor vinícola e reiterou que ofereceu ajuda significativa, incluindo um esquema de 200 milhões de euros para ajudar a destilar o excedente de vinho em álcool industrial no início deste ano. O governo também prometeu 38 milhões de euros para ajudar a financiar um esquema de "arranque" de vinhedos em Bordeaux, para evitar o excesso de oferta no futuro. No entanto, nada disse parece aplacar a fúria dos produtores no sul da França.
A queda do consumo doméstico tem sido um problema importante. Embora a França continue sendo uma das maiores nações consumidoras de vinho do mundo, os líderes do setor disseram no final de 2022 que o consumo caiu 70% nos últimos 60 anos. Este problema, no entanto, está longe de ser uma exclusividade francesa. A Comissão Europeia permitiu a destilação de crise em todo o bloco no início deste ano. O motivo foi a queda no consumo de vinho na França, Espanha, Itália, Alemanha e Portugal, e também um declínio nas exportações de vinho da UE nos primeiros quatro meses de 2023.