Com pouco mais de 5.000 habitantes e uma área de cerca de 250 quilômetros quadrados, a comuna de Montalcino, na Itália, por si só, seria um daqueles vilarejos encantadores da Toscana, pontuado por colinas, construções seculares, vinhedos, um castelo imponente e uma paisagem rural deslumbrante. A cerca de 100 quilômetros de Florença e pertencente à província de Siena, porém, o lugarejo entrou para o mapa-múndi da enologia graças ao cultuado vinho produzido ali, o Brunello di Montalcino. Algumas razões ajudam a entender o mito em relação a esse vinho e são fundamentais para que ele seja classificado de acordo com a DOCG Brunello di Montalcino (veja box).
Podemos considerar, por exemplo, a tradição secular – há registros de produção de vinho na região que ultrapassam meio milênio –, e um terroir especial, diversificado, mas com algumas características em comum: o solo dos 2100 hectares de vinha certificados mescla calcário, areia e argila; as elevações vão de 120 a 650 metros acima do nível do mar, contornadas pelos vales dos rios Orcia, Asso e Ombrone; o clima é predominantemente seco no verão, com chuvas no outono e na primavera; no inverno, a neve branqueia a paisagem superior aos 400 metros e os ventos que vêm do mar ajudam a dissipar a umidade da neblina e de geadas. Tudo isso permite que os vinhos tenham uma expressão complexa em termos de aromas e sabores, além de grande longevidade.
História engarrafada
Entre os produtores de Brunello de Montalcino, a Fattoria dei Barbi tem muita história para contar, mais precisamente desde 1352, quando a família Colombini, então pertencente à nobreza de Siena, adquiriu terras na região. Em um breve passeio pelos registros desses oito séculos de história da Fattoria dei Barbi observamos, cada vez a seu tempo, exemplos de pioneirismo e inovação. A eles: foi a primeira empresa a exportar vinho engarrafado, a partir de 1817. Desde o século anterior, coleciona o maior número de premiações entre os atuais 250 produtores de Brunello; foi o primeiro a ser condecorado pelo estado italiano, em 1892; o primeiro da região a abrir-se para o enoturismo, em 1954; e no ano de 1969, lançou o primeiro vinho Supertoscano, o Brusco dei Barbi (leia mais sobre este e outros vinhos da Fattoria dei Barbi aqui). Ademais, Fattoria dei Barbi pode dizer que engarrafou o tempo, afinal, em sua adega encontram-se garrafas de 143 colheitas de Vinsanto (desde 1870) e 131 de Brunello (desde 1892) – riqueza que permite uma constante perseguição à qualidade e ao DNA da casa.
Do campo à taça
Hoje Fattoria dei Barbi tem 451 hectares de terra somados, em propriedades localizadas em Montalcino, Scansano e Chianti, com quase 100 hectares de vinhedos, dos quais 41 destinam-se à elaboração de Brunello e 4,5 hectares para Rosso di Montalcino. O restante é utilizado na elaboração de outros vinhos, como Morellino di Scansano, Sant’Antimo Sangiovese e demais IGT Toscana. A aposta na qualidade se verifica na baixa produtividade de uvas por cada planta, que apresenta produção inferior a 1,3 quilo de uva por vinha, com densidade média de 5.200 vinhas por hectare. Com isso, Fattoria dei Barbi coloca no mercado, a cada safra, aproximadamente 800.000 garrafas, sendo 200.000 de Brunello, 100.000 de Rosso di Montalcino, 60.000 de Morellino di Scansano o restante de IGT Toscana.
No processo de elaboração do Brunello de Montalcino, a equipe de enologia de Paolo Salvi congela as uvas Sangiovese Grosso – trata-se de um clone diferente do da Sangiovese dos Chianti – com gelo seco na chegada à adega, para alcançar rapidamente a temperatura de 18°C. Em seguida, prensa suavemente as uvas, que fermentam em cubas de fermentação automática por 14 a 25 dias, a no máximo 28°C. O vinho segue para envelhecimento de pelo menos três anos em barris de carvalho da Eslavônia e mais quatro meses, ou mais, em garrafa. Com isso, Fattoria dei Barbi faz seus “Brunelli” chegarem ao mercado com, no mínimo, um ano a mais do que é exigido pela DOCG.