Gula Escola: Vinhos Verdes

Fotografia: DR
Alexandre Lalas

Alexandre Lalas

Espraiada por todo o noroeste de Portugal e tendo como fronteiras a Espanha ao norte; as serras de Freita, Arada e Montemuro a sul; as serras da Peneda, Gerês, Cabreira e Marão a leste; e o Oceano Atlântico a oeste, a região dos Vinhos Verdes, originalmente estabelecida a 18 de setembro de 1908, é a maior Denominação de Origem Controlada de Portugal - e uma das maiores da Europa. 

 

Embora a região seja mundialmente conhecida pelos vinhos frescos, leves e bons de beber que saem de lá, há uma diversidade grande nos Vinhos Verdes. Para além do estilo mais famoso, há uma enorme gama de possibilidades na região, desde brancos complexos e estruturados a tintos firmes e longevos, passando por rosados de todos os estilos, espumantes e até aguardentes. Tal diversidade é fruto das sutis diferenças que marcam cada uma das nove sub-regiões da DOC Vinhos Verdes. E é justamente sobre isso que falaremos nas linhas subsequentes. 

 

Mas antes, para entender o lugar é preciso marcar um breve retrato da geografia local. O geógrafo português Amorim Girão definiu a  região como “um vasto anfiteatro que, da orla marítima, se eleva gradualmente para o interior”. De fato, a região é decisivamente marcada pela influência do Oceano Atlântico. E tal influência é reforçada pela orientação dos vales dos principais rios, que facilitam a penetração dos ventos marítimos. Em linhas gerais, a influência atlântica, somada aos solos majoritariamente graníticos (há algumas manchas de xisto, além de solos aluviões perto dos leitos de alguns rios), ao clima temperado e à alta pluviosidade representam fatores decisivos para a obtenção de vinhos frescos, leves e elegantes, com elevado potencial de guarda. Ainda assim, há diferentes microclimas e tipologia de solos que contribuem para o aumento da diversidade na região. Diferenças estas que são bem marcadas a medida em que estudamos as sub-regiões dos Vinhos Verdes. Então, sem mais delongas, vamos a elas, em ordem alfabética:

 

 

1 . AMARANTE:

 

Engloba os concelhos de Amarante e Marco de Canaveses, é uma das regiões interioranas da DOC, portanto, mais protegida dos ventos atlânticos. Tal elemento, gera um microclima diverso, com uma maior amplitude térmica (temperaturas máximas mais elevadas e mínimas mais baixas), fator que contribui para uma maturação mais lenta das uvas. Por conta disso, variedades mais tardias como as brancas Azal e Avesso e as tintas Amaral e Espadeiro encontram excelentes condições para brilhar. Outra casta destacada na região é a Vinhão, uva tinta mais plantada nos Vinhos Verdes, e que em Amarante consegue atingir uma maturação perfeita. 

 

 

2 - AVE:

 

Engloba os concelhos de Vila Nova de Famalicão, Fafe, Guimarães, Santo Tirso, Trofa, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Póvoa de Varzim, Vila do Conde e o concelho de Vizela, com exceção das freguesias de Vizela (Santo Adrião) e Barrosas (Santa Eulália). Aqui, a vinha está espalhada por toda a bacia do Rio Ave, numa zona de baixa altitude e relevo acidentado, marcada substancialmente pelos ventos marítimos. Temos baixa amplitude térmica e médios índices de precipitação. É uma sub-região conhecida pelos brancos cheios de energia e vibração que entrega, sobretudo os construídos a partir das uvas Arinto e Loureiro. É preciso prestar atenção também aos espumantes e pét-nats que têm aparecido cada vez com mais frequência na região.

 

 

3 - BAIÃO: 

 

Engloba os concelhos de Baião, Resende (exceto a freguesia de Barrô) e Cinfães (exceto as freguesias de Travanca e Souselo), e fica no limite com a região demarcada do Douro. Outra região interiorana, com altitude média, maior amplitude térmica, menor pluviosidade. Tais condições fazem de Baião um lugar excelente para o cultivo de uvas como a Azal e a Amaral. Mas, sem nenhuma dúvida, o ex-libris da região é a casta Avesso que aqui combina à perfeição os aromas frutados e amendoados que a uva normalmente entrega com uma acidez viva e nervosa que dá um brilho a mais aos vinhos feitos a partir desta variedade.

 

 

4 - BASTO:

 

Engloba os concelhos de Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Mondim de Basto e Ribeira de Pena. É a região mais interiorana de todas as sub-regiões da DOC Vinhos Verdes. Tal fator, somado a altitude medianamente alta, faz de Basto um lugar bem protegido dos ventos marítimos, e, por consequência, com maior amplitude térmica e menor pluviosidade. O clima mais agreste favorece o cultivo de uvas como Azal (branca), Espadeiro e Rabo-de-Anho (tintas). E se a Avesso atinge o esplendor em Baião, aqui é a Azal que brilha mais intensamente. Os vinhos feitos em Basto a partir da casta costumam ser verticais, agudos e cheios de limão e maçã verde. 

 

 

5 - CÁVADO:

 

Engloba os concelhos de Esposende, Barcelos, Braga, Vila Verde, Amares e Terras de Bouro. Em termos climáticos as condições são bem semelhantes às encontradas na sub-região de Ave: relevo acidentado, baixa altitude, precipitação de média a alta, vinhas espalhadas por toda a bacia do rio que dá nome à região. No entanto, para além dos solos graníticos que imperam na região, em Cávado temos uma mancha de xisto que aos poucos têm sido mais explorada pelos produtores. Entre as brancas, Arinto, Loureiro e Trajadura são as mais destacadas, e geram vinhos leves, delicados e fáceis de beber. Entre os tintos, os cortes de Vinhão e Borraçal ganham destaque pela boa fruta e pelo frescor que usualmente encontramos. 

 

 

6 - LIMA:

 

Engloba os concelhos de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez. Em números gerais, é a mais chuvosa das nove sub-regiões da DOC Vinhos Verdes. A altitude das vinhas varia bastante, e aumenta a medida em que saímos do litoral para o interior. Tal fator gera microclimas diferentes e não é incomum encontramos referências a vinhos do Baixo Lima e do Alto Lima. Entre as brancas, a Loureiro ganha um destaque maior. Alguns dos melhores vinhos feitos com a uva são da sub-região de Lima. E entre as tintas, especialmente na zona do Alto Lima, temos visto recentemente uma valorização importante da Vinhão, com interpretações distintas,  que dão origem a vinhos diversos, dos menos extraídos e mais delicados, aos mais taninosos e estruturados, mas sempre com uma qualidade elevada. 

 

 

7 - MONÇÃO E MELGAÇO:

 

Engloba os concelhos de Monção e Melgaço. Fica bem na fronteira com a Espanha, cuja fronteira é delimitada pelo Rio Minho. Aqui temos invernos mais rigorosos e com precipitação mediana, e invernos quentes e secos. Além do granito, vemos algumas manchas de calhau rolado. A viticultura na região desenvolveu-se  em volta da margem sul do rio Minho, numa zona de meia encosta. Entre as tintas, Pedral e Alvarelhão são as duas indicadas. Especialmente a segunda entrega vinhos muito delicados e elegantes, que lembram alguns tintos do Jura e da Borgonha. Entre as brancas, a Alvarinho é a uva principal, sendo que é justamente na sub-região de Monção e Melgaço que a casta costuma atingir a máxima expressão. 

 

 

8 - PAIVA:

 

Engloba o concelho de Castelo de Paiva, e, no concelho de Cinfães, as freguesias de Travanca e Souselo. Aqui estamos numa zona de transição entre as sub-regiões mais expostas aos ventos marítimos e as mais protegidas. Em termos de amplitudes térmicas, a região encontra-se numa posição intermediária. No entanto, não faz parte do grupo das sub-regiões onde mais chove. A distância do mar somada à altitude faz com que as tintas Amaral e Vinhão ganhem destaque e deem luz a alguns dos mais interessantes tintos de toda a DOC Vinhos Verdes. Entre as brancas, Loureiro, Arinto e Trajadura ganham a companhia da Avesso entre as mais destacadas. 

 

 

9 - SOUSA:

 

Engloba os concelhos de Paços de Ferreira, Paredes, Lousada, Felgueiras, Penafiel e, no concelho de Vizela, as freguesias de Vizela (Santo Adrião) e Barrosas (Santa Eulália). Zona de transição, de clima ameno, com amplitudes térmicas baixas, mas pluviosidade abaixo da média. Embora não esteja diretamente exposta à influência atlântica, o relevo pouco acentuado permite uma penetração dos ventos marítimos. Tais características permitem à região abraçar tanto as castas mais afeitas às zonas mais costeiras, como Loureiro, Arinto e Trajadura, como as mais presentes no interior, caso da Azal e da Avesso. Entre as tintas, Borraçal, Vinhão, Amaral e Espadeiro (mais usada para produção de rosados) marcam presença em Sousa.