Bag-in-box, a bola da vez?

O lançamento dos vinhos Lekubi mostra a disposição dos empreendedores para envasar vinhos de boa qualidade neste formato

Fotografia: Divulgação
Marcel Miwa

Marcel Miwa

Lançada há apenas dois meses, a Lekubi foi idealizada por dois publicitários brasileiros radicados em Portugal há doze anos, Ricardo Braga e Deosdete Ribeiro Junior. O nome, como se pode imaginar ,deriva do formato cúbico da linha principal de vinhos Lekubi, design exclusivo e registrado para a marca. Segundo Deosdete, foram investidos cerca de 500 mil euros no empreendimento até o momento. “Foram três anos incubando o projeto até irmos ao mercado, dois meses atrás. E projetamos mais três anos de investimento para consolidarmos projeto; este é apenas o primeiro passo”.

Por hora são apenas vinhos portugueses, das regiões de Setúbal (Herdade da Barrosinha; branco, rosé e tinto e Sadino tinto) e Douro (Quinta da Carregosa tinto) na linha de entrada, e, na linha principal, tintos do Douro (Quinta da Carregosa Colheita e Vinhas Velhas tinto) e do Alentejo (Monte da Ravasqueira Superior e Reserva da Família, tintos). As duas linhas se distinguem pelo formato da caixa. A linha de entrada, com vinhos mais simples e para serem bebidos mais frescos possuem formato retangular, pensado para encaixar na porta da geladeira; enquanto a linha principal possui o formato de cubo.

“A ideia nasceu na Provence, onde mora minha sogra. Ia visitá-la e ela sempre mantinha uma bag-in-box de rosé na geladeira. E a qualidade média dos vinhos era muito boa”, disse Ricardo Braga à GULA. A partir daí o empresário começou a estudar o negócio e viu que há uma tendência mundial em torno desse tipo de embalagem, seja nos wine-bars que servem apenas vinhos em bag-in-box (BiB), caso da BiboViNo na França e na Suíça, que tem na sua seleção de BiB Côte-Rôtie, Condrieu e até um Beaune 1er. Cru, ou até restaurantes em com estrela Michelin também abrindo espaço para o BiB, caso do londrino St. John.

“Os vinhos portugueses representam nosso primeiro passo mas já estamos conversando com produtores de Espanha, França e Itália para entrarem no Lekubi e, claro, com brasileiros e sul-americanos também”, diz Braga, complementando que a qualidade é a principal diretriz para os vinhos entrarem na linha. “Só se muda uma categoria de produto com inovação e qualidade”.

Sobre um possível preconceito por parte do consumidor em relação à embalagem, Braga comenta que o nicho de BiB no Brasil ainda é muito pequeno para se ter um conceito estabelecido. “O importante é entender que não é vinho em caixinha longa vida, pois há uma tecnologia para manter o vinho a vácuo, permitindo o consumo da bebida ao longo de dois meses”.

Segundo dados da consultoria Ideal BI, o BiB representa apenas 1,1% do vinho fino comercializado no Brasil em 2019, o equivalente a 1,5 milhão de litros (59% de vinhos importados e 41% de vinhos nacionais).

Outro fator que coloca uma luz nas BiB é o apelo ambiental, uma vez que a embalagem de plástico e papelão pesa cerca de 1/3 a menos que as garrafas de vidro, para o mesmo volume de vinho. Além de reduzir a emissão de carbono em toda a cadeia produtiva, o processo de reciclagem também consome menos carbono que o vidro, que requer altas temperaturas para derretimento.

Dois alertas para o BiB estão no cuidado do transporte, uma vez que as caixas, se não paletizadas, não suportam grande empilhamento e o cuidado necessário na cadeia logística do vinho, uma vez que o isolamento térmico é menor com a BiB; além da recente ameaça da indústria brasileira de criar obstáculos para a importação de vinhos em embalagem com volume acima de 1.500 mililitros (caso do BiB).

Notas de prova:
Lekubi Quinta da Carregosa Vinhas Velhas 2019
Douro, Portugal
R$ 499 (3L, equivalente a 4 garrafas) - lekubi.com.br

90 pontos

A mescla de Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Sousão estagia em barricas francesas por 8 meses, mais 4 meses na garrafa. O resultado é um tinto repleto de violeta e frutas negras maduras, com o frescor dado por toques de hortelã. Na boca impressiona a estrutura de taninos, com trama muito fina e acetinada, com madeira integrada e suas especiarias e aromas tostados, sem interferir na boa expressão da fruta. Um tinto, longo, limpo e com estrutura que pede a companhia de um bom assado à mesa.